quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Livros que mais gostei em 2016

Olá.
Não costumo postar muito em forma de conversa mas isso é algo que quero mudar para o ano que vem. Acho que fui muito frio nas minhas postagens desde o início do blogue. Pensando nisso acredito que estava tentando não impor minha opinião sobre os livros privilegiando a análise. Pretendo manter os textos curtos mas de alguma forma mais "simpáticos" no intuito de aumentar um pouquinho a aproximação com os visitantes do blogue pois o volume de comentários e da quantidade de visualizações, estão excelentes. Apesar do blogue ser despretensioso é voltado para um nicho e nichos são sempre exigentes. Desta forma, considerem-se abraçados. 

O motivo principal desta postagem é compartilhar uma lista com as leituras que mais gostei este ano e, ao contrário das resenhas, serei muito subjetivo. Foi muito difícil escolher e acho que se a lista fosse feita em outro dia teria um resultado diferente. 

Este ano fiz 45 resenhas, entre livros e contos, com os quais fiquei bem satisfeito em conseguir uma boa abrangência nas leituras variando bastante dentro da Ficção Científica. Quando sai da FC, para resenhar clássicos da literatura brasileira, foi por um bom motivo, impulsionado por uma das minhas obras preferidas esse ano. Também sai do escopo da ficção para buscar boas leituras de não-ficção mas que tivesse alguma relação com a Ficção Científica. Acho que fiz boas escolhas de leitura esse ano. Li clássicos e novidades, brasileiros e estrangeiros, livros de autoras e autores. Também compartilhei alguns contos próprios e pretendo melhorar como escritor. A lista não tem livros de não-ficção, não li tantos para valer uma lista.

Então, ai vai uma lista, em ordem aleatória dos 10 livros de ficção que mais gostei de ler em 2016. Seriam 5 e mesmo dobrando acabei deixando ótimos livros de fora. Cliquem no título do livro e você serão levados a respectiva resenha. Vamos a eles:
Um exercício de alteridade imersivo e profundo. Este livro foi como realizar uma viajem a um planeta desconhecido e, como toda boa viagem, nunca mais retornamos os mesmos. Já tinha lido, "Os despossuídos", outra viagem excepcional, e, por este ser o mais conhecido, me deixou com altas expectativas e foram totalmente atingidas. Um livro para levar onde for.
Última resenha deste ano. Tem clima e historias pesadas mas ao mesmo tempo cativantes. Ébrios apaixonados capazes de qualquer coisa, a decadência e miséria misturadas ao desejo e o amor. Amor romântico e amor tesão, sem distinção alguma. Baita livro!
Ficção Científica com Policial, que promove uma reflexão apurada e necessária do nosso cotidiano. Esse "estranhamento" da New Weird, deveria ser comum na Ficção Científica, nos fazer viajar para lugares estranhos e fazer pensar sobre a nossa vida normal. Esse livro me fez refletir muito e nunca mais consegui caminhar casual mente pelas ruas da minha (e de qualquer) cidade. Já estou, conhecendo outra cidade de Miveville, a Nova Crobuzon, em Estação Perdido.
Esta história alternativa imagina um rumo muito absurdo para o Brasil, onde a escravidão nunca acabou, mas pensemos uma segunda vez: Quem somos nós para chamar o Brasil imaginado pela autora de absurdo? Cheguei a criticar levemente o livro pela falta de interação entre personagens negros, mas isso faz mais sentido no Brasil de pesadelo da autora, sem heróis, sem final feliz, do que no nosso Brasil que de sonho não tem nada. [É fim de ano pessoal, fico pra baixo mesmo, mas continuem lendo que eu melhoro]
Após ler Farenheit 451, não devia me surpreender mais com a qualidade da escrita de Bradbury, mas em "Crônicas Marcianas", mais do que qualquer sensação de viajar pelo espaço, foi uma viagem na humanidade, afinal, não é quando somos estrangeiros que pensamos mais no local de onde viemos? Fico imaginando as pessoas que acham a Ficção Científica vazia de profundidade, lendo esse livro, e mordendo a língua.
Como pode um livro ser de leitura tão fluida e trazer tantas reflexões apuradas numa mesma pegada. Encontrei este livro num sebo e não pensei duas vezes. Li muito rápido e me vi obrigado a desacelerar para aproveitar melhor. Como disse na resenha, a FC foi montada em cada página, na minha frente. É como ver a linha de montagem desse nicho que tanto amamos. Fiquei empolgado novamente em saber que existem sequências, não-lançadas ainda, para o livro. Já estão automaticamente na minha lista de desejos. Já disse que gosto muito de romance epistolar? Vou acabar falando isso de novo aqui.
Já faz anos que queria ler este livro pelo plot maravilhoso. Restava ver como seria abordado. A ironia afiadíssima do PKD me deixou muito satisfeito. A New Weird, do China Mieville, deve ter bebido nesse estilo pela convivência relativamente normal entre raças tão diferentes. A loucura e a normalidade dos personagens me fizeram viajar longe.
Tomei conhecimento do autor por meio dos desafios literários do Entre Contos, dos quais participo. O livro me surpreendeu pois foi uma experiência muito melhor do que contos soltos do autor, que já são ótimos. A proposta de quebra da quarta parede me conquistou logo de cara. O livro é cheio de armadilhas nas quais cai com gosto. Terminei a leitura querendo ser que nem o Rubem quando crescer.
A Ficção Científica mais brasileira que tive a oportunidade de ler. Não pela putaria e palavrões que respingam na cara do leitor, (também isso, né?!) mas pela viagem cantada e crua desse cyberpunk brasileiro que, até onde sei, é o primeiro e até agora o melhor cyberpunk nacional que já li. Por isso, indiquei como primeiro na lista dos livros mais importantes da FC brasileira.
As características desse livro fecharam perfeitamente comigo. É um romance epistolar, uma baita estória, muito bem escrito e ambientando em Porto Alegre, cidade que amo odiar. Acima de tudo por salvar dos confins empoeirados dos sebos personagens e estórias da Literatura Brasileira, ignorados mal-tratados (para não dizer, mal lidos), pela grande maioria de leitores brasileiros. É aquele tipo de livro que já deveria existir a muito tempo. Quem ainda não notou, eu estou resenhando aqui os clássicos da literatura que foram reinventados neste livro. Já disse que é uma baita estória e muito bem escrito?

E você, caro leitor, já leu algum dessa lista?
Consegue listar os 10 que mais gostou, lidos em 2016?
ou acha isso tudo uma tremenda bobagem e eu deveria capinar uma roça?
Comentem!
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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Resenha #57 - Noite na Taverna (Alvares de Azevedo)

Este é a segunda, de uma série de resenhas, que estou fazendo de obras clássicas da literatura brasileira que aparecem na série Brasiliana Steampunk, com o livro "Lição de anatomia do temível Dr. Louison" e alguns contos. A série coloca personagens da literatura brasileira em um mundo steampunk. De "Noite na Taverna", foi emprestado ao mundo criado por Enéias Tavares, Solfieri.

"Noite na Taverna" foi publicado postumamente em 1853, dois anos após a morte precoce de Alvares de Azevedo. São estórias cheias de tabus e violência ao mesmo tempo embaladas por amores fulminantes típicos do romantismo.

São cinco estórias contadas pelos homens que as viveram, mais um trecho de abertura e um de fechamento que a tornam uma única grande estória. Tudo passa em uma taverna escondida em um lugar indeterminado onde os personagens contam suas estórias. Após uma breve apresentação onde todos falam, Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johannn, começam a contar histórias marcantes de suas vidas.  Vários tabus são quebrados ao longo do livro, como a necrofilia, antropofagia e incesto. Tudo regado a vinho e violência que os unem na taverna. Os nomes de diversos lugares do mundo e os locais onde narram suas histórias tornam a taverna não localizável, podendo ser qualquer lugar no mundo. 

O livro é de leitura bem curta. A edição que li, tem 96 páginas e tem uma linguagem carregada do rebuscamento do período. Como acontece com outros clássicos, já estão disponíveis em domínio público e são fáceis de encontrar em qualquer sebo com várias opções de edição. Isso favorece pois é possível encontrar um com letras maiores ou em melhor estado. 

Solfieri ganha o sobrenome de seu criador naquele mundo Steampunk. Um ocultista imortal que carrega as dores do tempo que vive a mais que os mortais, a dor dos românticos taberneiros da obra de onde saiu. Ainda que tenha participação tímida no primeiro livro da série, Solfieri aparece em mais dois contos onde é o protagonista. Espero lê-los para resenhar no blog.

O outro clássico resenhado no canal, nesta série, foi: O Alienista.

Baixe o livro, sem culpa, pois é de domínio público. 
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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Resenha #56 - Vingador do Futuro (Philip K. Dick)

Vamos para outra coletânea de contos de Philip K. Dick, que a exemplo de "Minority Report" também foi lançada na carona de outra adaptação de um conto ao cinema. Desta vez é "Vingador do Futuro". Aqui foi lançada como uma coletânea avulsa de contos mas na verdade trata-se da "The Little Black Box - volume 5 of the collected stories of Philip K. Dick", ou seja, é o 5º volume de uma grande coleção lançado nos EUA. Vamos analisar os contos em separado:

Vingado do Futuro (ou Podemos recordar para você por um preço razoável - We Can Remember It for You Wholesale) É o conto que dá título a coletânea e a inicia. Serviu de inspiração para o filme Vingador do Futuro, que começa apresentando Douglas Quail, um "assalariado de merda" que não tem o tamanho de Schwarzenegger mas deseja ir a Marte. Então, recorre a Rekordações para receber um implante de memória de como teria sido a viagem. Após complicações no procedimento a estória segue um rumo diferente do filme. O conto aborda o que restaria de nossa identidade se pudéssemos manipular as nossas lembranças e experiências de vida.*

A mente alienígena (The alien mind) - Conto bastante curto. Bedford é um piloto espacial de uma nava comercial prestes a atracar no planeta Meknos III. O humor cruel toma conta da narrativa do meio para o fim. Muito bom!

Revanche (Return Match) Joseph Timbane, policial de Los Angeles apreende um fliperama em um cassino ilegal de alienígenas de Io. No laboratório, a máquina mostra um sistema que a impede de perder, nem que tenha de matar o jogar para isso. Philip K. Dick já havia abordado jogos como armas de guerra não-convencional em "Jogos de Guerra" (ver resenha de Minority Report

Não julgue pela capa (Not by its cover) Sr. Handy é um rabugento dono de uma gráfica de livros e fica intrigado com o mistério dos livros que parecem ter vida própria, manifestando-se alterando conscientemente os conteúdos originais dos livros impressos. Isso sempre ocorre quando estão envolvidos na pele de Wub, um animal de Marte. As modificações se dão sempre para defender a vida após a morte. Um significado mais profundo está no texto que veio da terra envolvido na pele de um animal marciano, nos mostrando como uma cultura não pode permanecer pura e nós estamos sempre envolvendo os textos em "peles de Wub" mudando seu significado ao longo do tempo e do espaço. 

A formiga elétrica (The Electric Ant) Gerson Poole, após um acidente, descobre que é uma formiga elétrica, nome pejorativo para androide, porém ele acreditava ser um humano genuíno. É interessante notar que é o caminho inverso do Homem bicentenário de Asimov, um robô consciente de sua condição que luta alçar a condição humana. Já Gerson Poole acreditava ser humano e tem de lidar com sua nova realidade não-humana. Nesse conto, Dick adiantou muitas coisas que seriam tema de "Androides sonham com ovelhas elétricas?". Limites da humanidade e da realidade.*

A pequena caixa preta (The little Black BoxO casal Joan Hiashi e Jay Meritan conhecem uma nova religião, o Mercecismo, que gira entorno da necessidade de empatia como principal valor. Os governos, tanto capitalistas como os comunistas começam a perseguir os adeptos e caçam seu profeta, Wilbur Mercer**. Neste conto temos a visão de religião do autor como um valor perigoso para o Estado. O aparelho que os merceritas usam para contactar seu profeta em rede é o objeto que dá nome ao conto. Este conto se conecta com um romance clássico do autor: "Androides sonham com ovelhas elétricas?". 

* = Estes contos já foram lidos, também, em outra coletânea (Minority Report) resenhada no blog. Então a analise é repetida.
** = Foi daqui que tive a ideia do nome do blog.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Resenha #55 - Um passeio no jardim da vingança (Daniel Nonohay)

A obra de estreia do gaúcho Daniel Nonohay é um romance policial com elementos de ficção científica ciberpunk, ambientado numa Porto Alegre de meados de 2040. O livro foi bem divulgado na época do lançamento, porém passou longe do radar do fandom nacional de ficção científica. Contudo, ainda que seja essencialmente um romance policial com roupagem ciberpunk, quero destacar o valor da obra no campo da especulação futurista brasileira.

O protagonista, Ramiro Souza de Braga, é um advogado envelhecido tanto pelo tempo quanto pelas drogas e por uma vida basicamente sem propósito. Após um atentado à bomba, Ramiro passa a ser perseguido por uma rede de poder e influência envolvendo os próprios sócios de sua firma de advocacia. A busca por vingança é a única forma que Ramiro encontra para reconquistar o gosto pela vida.

Os outros personagens também se encaixam no tipo anti-herói, mais nos moldes da literatura policial do que nos moldes dos indivíduos excluídos do festim das grandes corporações futuristas. Ramiro é um dos cidadãos ricos, alguém enfastiado com o conforto, igual a qualquer magistrado acomodado na posição de autoridade dentro do poder judiciário. (Vale lembrar que Daniel Nonohay é juiz do trabalho em Porto Alegre.)

A ambientação dessa Porto Alegre do futuro é composta por uma atmosfera profundamente fendida, atualizando a clássica separação entre ricos e pobres. Nas páginas de Um passeio no jardim da vingança tudo é descrito de forma tênue e sutil; por exemplo, a disseminação das drogas sintéticas, os dois implantes cerebrais de Ramiro, as áreas muradas e seu aparato de vigilância que não são muito diferentes dos condomínios fechados de hoje. Os implantes cerebrais do protagonista, que potencializam sua memória e permitem acesso à internet, são mostrados de forma mais prática e sem o tratamento estético de um William Gibson, que o autor não chegou a ler. Essa sobriedade corriqueira do cotidiano no futuro acaba conferindo mais seriedade ao aspecto ciberpunk da obra. Ela é um diferencial muito relevante em comparação aos outros romances recentes desse subgênero publicados no Brasil, obras que ainda tentam emular a estética de Neuromancer. O resultado é que pendem mais para a sátira e menos para a especulação.

O trato sóbrio do elemento ciberpunk se dá pelo fato desse ser apenas um adereço em um romance policial, que tem suas próprias linhas para seguir, nesse caso, o mistério de um atentado que desemboca numa conspiração por mais poder. A obra consegue prender a atenção do leitor, com sua trama complexa, cheia de meandros jurídicos (sem se transformar em juridiquês). Esses momentos tomam conta da história no seu segundo ato, o que pode fazer o leitor esquecer que se trata também de uma FC, mas os elementos sci-fi continuam relevantes e fundamentais para as boas reviravoltas da trama.

Jogando com o presente, o passado e o futuro, Um passeio no jardim da vingança não é nada pretensioso em relação ao ciberpunk e talvez isso seja a melhor contribuição que a obra traz ao subgênero que mais concorreu para moldar nosso presente e nosso imaginário.
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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Resenha #54 - A Metamorfose/O Veredicto (Franz Kafka)

Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”.

A primeira frase de "A Metamorfose" de Franz Kafka é uma das, se não a mais, geniais da literatura mundial. Em primeiro lugar, é um excelente sinopse jogando o leitor diretamente na trama e, segundo, adianta o estilo direto e seco do autor. Esta secura é uma das formas de mostrar seu amargor em meio a um turbilhão de sentimentos pessoais do autor que transbordam em toda sua obra.

A metamorfose não tem explicação. A desgraça cai sobre Gregor Samsa da noite para o dia mas a máquina não pode parar. Gregor continua tensionado a ir trabalhar, inclusive deseja voltar, mesmo odiando o emprego, enquanto isso todos continuam com suas preocupações. Gregor que antes sustentava a família, agora era literalmente um inválido, porém é indigno até de pena. Nesta forma, contudo, parece livre do emprego e das obrigações o oprimiam e seu aprisionamento no quarto se dá mais pelo sustento que não pode mais prover do que pela sua condição de inseto monstruoso. 

O que fica mais evidente em "A Metamorfose" é sua relação de respeito e ódio de Gregor com o pai. Essa situação é confidenciada, sem o manto da ficção, em "Carta ao pai". Entre essas duas obras, Kafka escreveu "O Veredicto" um conto escrito para sua noiva contando a estória de Bergeman um comerciante que troca cartas com um amigo na Rússia e, por mentir em suas correspondências sobre a sua situação, não sabe se o convida para seu casamento. O conto é um tanto confuso como estória e só faz sentido uma vez entendidos os dilemas de Kafka, que ainda não era tão habilidoso em cobrir seus sentimento, como viria a ser em "A Metamorfose". Ainda sim é um bom conto.

A edição lida para a resenha é a da L&PM pocket contem a novela "A Metamorfose" e o conto "O veredicto". Contém, também, textos analíticos no início e no fim do livro sobre a obra do autor e notas de rodapé que auxiliam leitores pouco iniciantes. Elas apontam as ironias e características literárias de Kafka por todo o texto. Apesar de forçar uma interpretação da obra considero como boas muletas para o leitor.
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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Resenha #53 - Minority Report (Philip K. Dick)

"Minority Report - A nova lei", é uma coletânea de contos do Philip K. Dick, editada pela Record em 2002. Aproveitando a onda do lançamento nos cinemas e o sucesso, a capa foi copiada tão igual quanto possível ao cartaz do filme. Como o roteiro foi baseado num conto de 60 páginas, a Record decidiu incluir mais nove contos e lançar uma coletânea. Debrucemo-nos em cada conto, para depois falar dos aspectos gerais da edição.

Minority Report já havia sido publicado antes com título traduzido (Relatório de minorias) contudo, em virtude do título do filme vir sem tradução, foi mantido o título original. Conta a estória de John Anderton comissário da polícia pré-crime, uma instituição policial que utiliza "precogs", mutantes capazes de prever o futuro. Tal qual o filme, os policiais prendem os assassinos antes de cometerem um crime e a trama começa quando o nome de Anderton é apontado como um assassino. A estória envolve a existência da própria polícia, contudo, o faz por caminhos diferentes do filme. O conto tem personagens menos "maquiados" que no filme. Anderton é gordo e careca (nada parecido com Tom Cruise, em 2002) e os precogs tem aspecto medonho. A crueza do conto está nos personagens e não na ambientação (enquanto o filme transferiu isso para a ambientação e contratou atores bonitos). É um ótimo conto. (p.11-61)

Em Jogos de Guerra, (War Game) funcionários de uma importadora de brinquedos avaliam produtos vindo de Ganimedes para o mercado da Terra. São eles: Um jogo de realidade virtual onde soldados invadem uma cidadela, uma fantasia de cowboy e uma variante do Monopoly chamada Syndrome. O propósito dos brinquedos é obscuro aos personagens e ao leitor também, não percebem a ideologia guerreira de seus importadores mesmo nos brinquedos vetados. Contudo, a ideologia mais sutil e eficiente está justamente no brinquedo aprovado. (p.63-85)

O que dizem os mortos, (Wath the Dead Men Say) se passa em um futuro onde os mortos podem conversar com os vivos, se mantidos sob certas condições de temperatura. John Barefoot é o RP do recém falecido megaempresário Louis Sarapis, que pretende continuar influenciando sua empresa e aliados políticos enquanto estiver semivivo. Contudo os agentes de conservação não conseguem estabelecer contato até que sua voz começa a aparecer em todos os aparelhos de rádio, telefone e TV. O plot foi aproveitado posteriormente em Ubik, onde o personagem Herbert Schoenheit reaparece. (p.87-160)

Ah, ser um Bolho! (Oh, to be a Blobel!) mostra a vida de George Munster, veterano de uma guerra contra uma raça alienígena, os bolhos de titã. Á narrativa é cheia de ironias utilizando o estranhamento entre a forma humana e a forma de vida unicelular dos bolhos para mostrar nossa incapacidade de conhecermos uns aos outros bem como expor os valores familiares burgueses do relacionamento. Há uma dimensão política do conto, sendo uma crítica aos rumos dos EUA que "assimilam" características dos países com que entram em guerra, como a Alemanha Nazista e, depois, o Vietnã (uma crítica a chamada, "Guerra de corações e mentes"). Uma forma muito criativa de explorar a polissemia da Ficção Científica. 
Formas de vida parecidas com os bolhos aparecem em Clãs da Lua Alfa, porém sem sofrer a mesma repulsa dos personagens. (p.161-185)

Podemos recordar para você por um preço razoável (We Can Remember It for You Wholesale) O conto serviu de inspiração para o filme Vingador do Futuro, que começa apresentando Douglas Quail, um "assalariado de merda" que não tem o tamanho de Schwarzenegger mas deseja ir a Marte. Então, recorre a Rekordações/Rekord para receber um implante de memória de como teria sido a viagem. Após complicações no procedimento a estória segue um rumo muito diferente do filme. O conto aborda o que restaria de nossa identidade se pudéssemos manipular as nossas lembranças e experiências de vida. (p.187-216)

A fé de nossos pais (Faith of Our Fathers) Chien é um funcionário do Partido Comunista de Hanói em uma realidade alternativa em que os comunismo se espalhou pelo mundo, inclusive nos Estados Unidos. Seus problemas começam quando Chien usa um alucinógeno em frente a televisão, durante o discurso obrigatório do Grande Líder, e passa a vê-lo em uma forma não-humana. Não demora muito, Chien se envolve com opositores do partido. A estória vai além do anticomunismo clichê e tem as quebras de barreiras da realidade que o autor questionou em seus escritos. Este conto, assim como o seguinte, fizeram parte da célebre antologia Visões Perigosas, contudo apenas o seguinte foi referenciado na edição. (p.217-260)

A história que acaba com todas as histórias (The Story to End All Stories) É o menor conto de Dick. É carregado do temor da guerra nuclear e também das investigações teológicas do autor a respeito de Deus que tomariam conta de suas ultimas produções. Nesse sentido, conversa bastante com o conto anterior "A fé de nossos pais". Não subestimem pelo tamanho, é um conto que precisa acontecer, na maior parte do tempo na cabeça do leitor, com são os minicontos. (p.261)

A formiga elétrica (The Electric Ant) Gerson Poole, após um acidente, descobre que é uma formiga elétrica, nome pejorativo para androide, porém ele acreditava ser um humano genuíno. É interessante notar que é o caminho inverso do Homem bicentenário de Asimov, um robô consciente de sua condição que luta alçar a condição humana. Já Gerson Poole acreditava ser humano e tem de lidar com sua nova realidade não-humana. Nesse conto, Dick adiantou muitas coisas que seriam tema de "Androides sonham com ovelhas elétricas?". Limites da humanidade e da realidade. (p.263-286)

A segunda variedade (The second variety) Se passa em um mundo devastado pela guerra entre EUA e URSS. As tropas soviéticas, após tomarem os Estados Unidos, são praticamente dizimados por robôs chamados "garras", inicialmente controladas pelos estadunidenses. A estória começa quando um soldado russo vai até uma base americana entregar uma mensagem e Hendricks vai até a base russa investigar. 
As "garras" que parecem drones, logo, tomam formas mais avançadas, explorando e destruindo a humanidade nos soldados. Tudo isso narrado de forma crua, mostrando toda a miséria da guerra, sem nenhum traço de bom humor - como é comum em outros do autor. (p.287-348)

O impostor (Impostor) é a primeira estória do autor sobre o tema "Eu sou humano?". Nela temos Spence Olham, que trabalha num Projeto (indeterminado, relacionado a corrida armamentista) e passa a ser perseguido pelo seu amigo policial que o acusa de ser um robô espião de uma raça alienígena que teria feito uma cópia perfeita da memória do verdadeiro Spence Olham. O que chama a atenção não é apenas a dúvida "sou humano ou não" mas a capacidade de transferir memórias para um robô e este adquirir todas as características. É o transhumanismo abordado décadas antes (1953) do movimento Cyberpunk (anos 1980)! (p.348-367) 

Sobre a edição lida para a resenha: Particularmente não gosto de capas de filme em livros pois as diferenças são tantas que fica algo muito falso. Com exceção de Blade Runner, a maioria das adaptações de suas obras apenas chupam os plots e ignoram as ideias mais profundas do autor que não foram feitas apenas para divertir. Infelizmente a edição foi bastante apressada, pois tem alguns erros de tradução e digitação, porém os contos são muito bons. Vale mais para completar a coleção de contos traduzidos do autor no Brasil do que como porta de entrada a obra de Philip K. Dick. Se você encontrar barato em algum sebo, vale a pena. Se você tem grana para uma edição nova melhor pegar "Realidades Adaptadas" da Aleph mas se você é muito fã do PKD, como eu, fique com os dois.
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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Resenha #52 - A procura de vida inteligente (Victor Allenspach)

"A procura de vida inteligente" é um livro de contos lançado de forma independente por Victor Allenspach. Composto de oito contos de ficção científica, a obra gira entorno de Boris, um androide muito similar aos humanos inclusive na capacidade de sentir. Os contos são independentes e podem ser lidos separadamente contudo ganham um sentido que os amarra praticamente como um romance. Um efeito que engrandece o livro para além de uma coleção de contos. Antes de falar mais do livro como um todo, vamos aos contos em separado:

Mensagem para o Universo O conto começa com os últimos momentos de Bóris. É daqueles que se relembra durante a leitura dos contos seguintes, principalmente do último. (p.6-8)

Mula desobediente. O conto começa com reflexões e construções de frases no estilo de Douglas Adams mas depois a estória começa de fato e vai tornando-se mais interessante com a exploração espacial em si. Conhecemos Ekta um explorador espacial por profissão que recebe uma proposta de um antigo amigo para ajudá-lo num empreendimento numa galáxia distante que pode torna-lo reconhecido. A estória tem uma boa guinada e um final excelente. (p.9-42)

Cemitério de plástico começa com um homem que se descobre o único sobrevivente de um desastre com uma grande embarcação espacial. Perdido em meio ao clima desértico e inóspito o homem encontra uma misteriosa menina que deixa tudo mais misterioso  sinistro. Conto também tem um final muito bom. (p.43-72)

A deriva Sasha é a capitã de uma enorme nave da Federação quando encontram um misterioso androide chamado Boris. Em meio a uma crise de energia da nave Sasha se vê obrigada a ficar longe de seu amor Thoru uma IA que depende do computador da nave para funcionar. Ela conta com a ajuda de Boris, um androide encontrado no caminho. O final desse também é excelente. (p.72-102)

Horizonte acentuado Nesta estória conhecemos Marcos, um técnico em tecnologia gravitacional que é contratado por um misterioso ricaço, de nome Giulio, que mora em um corpo espacial no canto reservado da galáxia. O androide Bóris, seu serviçal, é a úncia companhia de Giulio. (p.103-142)

Reciclado O conto acompanha Dona Lourdes, uma viúva de um explorador espacial que se muda para um planeta distante com seus dois filhos e trabalha reciclando robôs. Não por  acaso, um deles é Bóris. (p.143-164)

Diagnostico do chef Duongo é um planeta curioso com seres de cascos tão gigantescos que os humanos construíram hotéis. Estevam e Rúbio estão em visita a este paraíso tropical. (p.165-185)

Boris Richard Márquez faz uma incrível descoberta de um universo paralelo que está com os dias contados. (p.186-196)

Os contos juntos parecem formar uma única estória, cada uma justificando como Bóris foi parar no cenário do conto anterior. Sendo assim, além de lermos querendo saber o que vai acontecer com o protagonista do conto, ficamos curiosos em saber como Bóris foi parar no lá onde estava no conto anterior. Bóris consegue ser coadjuvante em vários contos e ser protagonista do livro ao mesmo tempo. É um feito sensacional para a obra.
A capa é simples e sincera. Não promete aventuras eletrizantes que o livro não tem pois ele se dá tempo para muitas reflexões sobre a vida, o que pode deixar a leitura lenta. As páginas são de material reciclado e isso está ligado a Bóris que sempre corre risco de ser reciclado por ser diferente. Vale a pena para quem gosta de Ficção Científica no estilo clássico e para quem não conhece também poder um dia a gostar.

A edição lida faz parte do booktour que o autor promove com seu livro, distribuindo exemplares itinerantes, ou seja, o leitor pega o livro e passa adiante. Outra forma do livro ser, reciclado.
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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Resenha #51 - A carta roubada e outras histórias de crime e mistério (Edgar A. Poe)

Edgar Allan Poe é um escritor obrigatório para o gênero de horror e mistério. Em “A Carta Roubada e outras histórias” temos uma pequena coleção de seus contos, sua especialidade. Das narrativas, algumas são muito curtas e, outras, maiores, debruçam-se nas descrições de locais sombrios e a grande maioria reserva finais surpreendentes. Algum que é frequente são protagonistas que deixam pseudônimos (William Wilson) ou simplesmente resolvem ocultar a sua identidade. Um elemento que aumenta o mistério no imaginário do leitor. Vou falar sobre cada um dos 10 contos:

A carta roubada, é um conto de mistério, que abre a coletânea começa com o protagonista e seu amigo (Auguste Dupin, que aparece em outros escritos do autor) são consultados em um caso de uma carta roubada que nem a polícia conseguiu solucionar. Na sequência, Metzengerstein, é o primeiro trabalho profissional de Poe como escritor a ser publicado. O conto fala sobre duas famílias húngaras os Metzengerstein e os Berlifitizing e a maldição que cerca as duas famílias envolvendo o jovem barão e o velho patriarca, respectivamente. 
As próximas duas estórias são obsessões com musas sombrias. A primeira é Berenice, um conto envolvente onde o protagonista sofre um distúrbio de atenção, parecido com algum tipo de paranoia que envolve sua prima de nome Berenice; e a outra é Ligeia era o amor da vida do protagonista que permanece na lembrança mesmo após o segundo casamento. Há uma boa surpresa nos últimos momentos, mas a narrativa é arrastada e pouco interessante em comparação aos outros contos. 
A queda da Casa de Usher é um conto de mansão assombrada, mas que tem nos irmãos Usher a fonte de medo e tensão por qual o protagonista, um amigo da família que prefere manter-se anônimo (algo recorrente dos contos de Poe), passa durante toda a narrativa. Um final excelente. Também abordando a paranoia, desta vez envolvendo a própria identidade do protagonista temos William Wilson, que se sente perseguido por um homem parecido consigo na aparência e em vários outros aspectos. Final excelente. Depois temos três estórias bem curtas. O retrato ovalado, sobre o mistério envolvendo o processo de pintura do retrato pendurado numa mansão gótica e A máscara da Morte Rubra que conta sobre as noites de festa bancadas por um príncipe para sua corte que foge de uma peste que assolava a população. Por fim, O Barril de Amontillado é um conto curto sobre uma vingança planejada há anos. Final é muito bom.
O poço e o pêndulo, que fecha o livro, é uma narrativa tensa de uma tortura da inquisição. O sadismo dos elementos que se apresentam são o grande atrativo do conto. Diferente dos outros que dependem muito de uma reviravolta no final.

Como em toda coletânea existirão aqueles contos que agradam menos. Quem não gosta de narrativas muito descritivas e poucos diálogos terá dificuldade com o autor. Contudo, se o ambiente sombrio faz toda a diferença as chances de gostar do livro aumentam bastante.
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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Resenha #50 - Os invasores de corpos (Jack Finney)

"Os invasores de corpos" de Jack Finney é um clássico da Ficção Científica, Terror e, também, uma das parábolas políticas mais famosas do tempo de Guerra Fria. Um padrão de estória que até hoje continua sendo copiado em produções de Hollywood.

A estória já se tornou clichê, mas cuidado ao usar este termo nesta obra, pois este era uma grande novidade por misturar o Terror e FC num ambiente de cidadezinha do interior. Tudo começa quando o Dr. Miles recebe pacientes alegando que parentes próximos foram substituídos por impostores. São sintomas do que hoje chamamos de Síndrome de Capgras. Miles pede ajuda de colegas psicólogos para resolver o problema. Contudo, Miles acaba descobrindo ser verdade, pois uma silenciosa invasão alienígena estava em curso. Ele e uma antiga paixão, Beckey, estão presos na cidade tentando descobrir com escapar da situação.

A obra é toda narrada em primeira pessoa, na pele do Dr. Miles, e segue a narrativa típica do Best-seller estadunidense, com um homem comum lidando com algo extraordinário, com conflitos, dramas e uma garota. Tem uma ou duas cenas de ação e um debate de ideias e valores com algum antagonista e... leia você mesmo, [SEM SPOILERS] lembra?!. O ritmo é intenso e o clima de paranoia é bem aproveitado pela narrativa do ponto de vista comum de Miles e a forma como os alienígenas são retratados é angustiante. Já, o romance com Beckey é típico dos filmes que os próprios personagens tentam não seguir. Um livro fácil de ler e de entender.

Parábola da Guerra Fria
Finney soube fazer terror com a paranoia da Guerra Fria. Na época em que o livro foi escrito (1955) a "Caça as Bruxas" nos EUA estava a pleno vapor. A obra projeta o medo do comunismo no alienígena que enganosamente parece humano, mas esconde apenas o instinto de reprodução. São seres sem emoção, sem valores morais e imbuídos de um coletivismo inquestionável tal qual foram estigmatizados as sociedades sob o comunismo naquele período. Por outro lado, o estadunidense é visto como a vítima frágil e protetora dos valores universais humanos, condensadas pela pequena cidade interiorana. 

Ainda que a ambientação em cidadezinhas para o terror seja herdada do gótico e a invasão alienígena, por sua vez, da obra de Wells, a fórmula foi repetida a exaustão nas produções cinematográficas de Hollywood, com três adaptações ao cinema e vários filmes derivados que bebem dessa fonte.
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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Resenha #49 - Encontro com Rama (Arthur C. Clarke)

"Encontro com Rama", é outra obra clássica de um autor clássico da FC. Arthur C. Clarke consegue envolver o leitor num suspense envolvente. Suas obras são conhecidas por misturar conhecimentos científicos, muito bem embasados, com elementos místicos que perpassam a obra. Nesta obra a parte científica se faz muito mais presente.

A Estória se passa num futuro onde o homem assentou-se solidamente em vários planetas e luas do sistema solar (Mercúrio, Terra, Marte, Ganimedes, Titã e Tritão), contudo, ainda se vê sozinho no universo. Até a chegada do misterioso objeto que se dirige em direção ao Sol velozmente. A estória é basicamente a missão de exploração comandada pelo Capitão Norton ao objeto denominado Rama, para travar o esperado primeiro contado com um ser alienígena.

O leitor pode esperar uma estória bastante envolvente. Ela segue duas linhas, a principal é onde a expedição se desenrola, as sensações dos personagens aos efeitos gravitacionais são descritas com muita perícia e eficiência. Tudo fruto do conhecimento científico do autor. A segunda linha é das reuniões do conselho dos Planetas Unidos que auxiliam (ou atrapalham?) o andamento da missão. O livro é curto, isso justifica, em parte, os personagens serem comuns e pouco desenvolvidos. Os personagens que fazem parte da expedição são, basicamente, aventureiros intrépidos frente a uma mistério estrondoso e a jornada para descobrir esse mistério, consiste a maior qualidade do livro. Note que eu disse "a jornada", e não "a revelação". Pois não há muitas respostas no fim. É sabido (e não spoiler), que as sequências revelam os grandes mistérios apresentados nesse livro.

Considerações finais
Clarke mostra mais ciência que misticismo neste livro. É um prato cheio para quem gosta de FC "Hard". Contudo, pode desagradar quem gosta de personagens bem desenvolvidos (não há aqui) e uma revelação bombástica no fim, pois existem sequências.

Baixe ENCONTRO COM RAMA aqui no blog.
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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Resenha - Revista Quadrante Sul número 7

Esta é a última resenha desta série do Quadrante Sul que, até o momento que vos blogo, chegou a sua sétima edição. Já terminei a leitura querendo saber de mais, mas vendo o distanciamento temporal entre as publicações é bom ter paciência.

REVISTA QUADRANTE SUL Nº7
Neste número, os editores buscaram dar um novo passo na publicação, pois ao invés de várias estórias curtas, agora temos uma estória apenas, que ocupa todas as 34 páginas da edição. "Um plano maquiavélico" é também um crossover entre dois personagens: A super heroína paraibana "Velta" (solta raios de calor pelas mãos), de Emir Ribeiro e o gaúcho "Aproveitador" de Gervásio Santana. 
A estória começa com o Inspetor mineiro Gilberto Gomes, antigo parceiro de "Velta", que encontra seus informantes assassinados uma a um, sempre acompanhados de um bilhete ameaçador assinado por Neco G. Então, um sequestro leva os dois heróis ao Rio Grande do Sul onde são ajudados (não sem um incentivo financeiro, é claro) pelo mercenário "Aproveitador".
A estória é uma aventura, acima de tudo, muito divertida e os traços de Zambi ajudam no clima da aventura, trazendo bastante expressão aos personagens. Tá mais do que recomendada a leitura.

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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Resenha #48 Conto, Bento Alves e o Assalto ao Templo Positivista - Enéias Tavares

"Bento Alves e o Assalto ao Templo Positivista" é o primeiro de uma coleção de seis contos do mundo "Brasiliana Steampunk", que tem um livro lançado: "A lição de anatomia do temível Dr. Louison" e já foi resenhado no blog.
O conto narra um episódio que é apenas citado no livro, o recrutamento do aventureiro Bento Alves para a Sociedade Secreta do Pártenon Místico pelo Dr. Beningus. Bento logo descobre que é parte fundamental no plano do Pártenon de regatar Vitória Acauã, que está em cativeiro no Templo Positivista, onde é cobaia de experimentos pseudo-científicos.
Tudo é narrado em forma de carta, num relato detalhado pelo próprio Bento Alves. A forma epistolar de escrita é presente também no primeiro livro da série. Nesse ponto o conto serve também como uma introdução ao mundo criado pelo autor para quem ainda não conhece e, ao mesmo tempo, serve para, quem já leu o romance, como este que vos escreve, matar a saudade dos personagens. A única diferença é que neste conto o foco é a ação, logo, a leitura passa bem rápido enquanto o romance envolve um mistério no estilo policial. Ambas as leituras estão recomendadas.
O conto pode ser encontrado no blog dedicado a série http://brasilianasteampunk.com.br/
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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Resenha - Revista Quadrante Sul número 6

REVISTA QUADRANTE SUL Nº 6
Voltando a resenhar a Revista Quadrante Sul, vamos ao número 6. O destaque está logo na capa com uma arte espetacular, que remete a primeira estória, "Viva a Involução", que ocupa a maior parte da edição. Trata-se de uma ficção científica com inspiração cyberpunk, que estamparam a edição 4 da revista mas não tinham uma estória. É o primeiro capítulo de um mundo em construção, uma Porto Alegre futurista de 2088, assolada por uma droga terrível que transforma usuários em monstros. A estória deixa muitas pontas soltas e uma vontade danada de saber o que vai acontecer. Resta aguardar o número 8 para saber. O destaque é para a qualidade da arte, a personagem que toma conta da estória é muito expressiva e misteriosa.
A segunda estória, temos "Bruce, O Exterminador" em "Minha menina" que manda o recado em duas páginas. O traço forte o texto cru, seco e direto me agradam bastante. 
Em "Infinitus!" temos um punhado de guris que se formam uma banda de rock para gritar contra a letargia do mundo, com traços de mangá e textos distribuídos de forma criativa nas páginas contam a estória e contextualizam o mundo criado.
"Redenção" temos a volta do "Caçador", que apareceu sem máscara no nº 4, agora no seu jogo preferido, caçando um vilão de nome Gandu. O combate está muito bem feito e os personagens são ótimos.
Na última página, como na edição anterior, uma unica página e sete quadros numa estória rápida com um personagem de Jack Jackson, conhecido dos zines, "Amazon" um índio protetor da amazônia. A estória se chama "Caça" e o traço muito bonito chama a atenção.

Senti falta do "Aproveitador", mas como resenho já sabendo da próxima edição, sei que a espera vale a pena.

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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Resenha #47 - Promessa de liberdade (Evelyn Postali)

[SEM SPOILERS]
"Promessa de liberdade" é uma distopia nacional da escritora gaúcha Evelyn Postali. A estória se para em uma Realidade Alternativa onde o Brasil se torna uma grande potência econômica porém o sistema escravista nunca acabou, pelo contrário, tornou-se mais racionalizado e cruel. A narrativa é tensa e direta, tendo a liberdade como tema principal.

Nesse presente alternativo, o livro conta estória de Carlos, o filho mais novo da família Almeida Paes Leme, que vive afastado do pai, Fernando, um dos homens mais poderosos do país e dono da maior empresa comercializadora de negros escravizados. Após uma sabotagem de um grupo Abolicionista, Júlio, um dos cativos que consegue fugir encontra abrigo na casa de Carlos, que se vê obrigado a sair do comodismo e lutar pelos seus ideais, ou ser arrastado pela ditadura que domina o país. No desenrolar da estória, prevalece a tensão, desconfiança e afeto mútuos entre Carlos e Júlio e, também com seus familiares e amigos da banda de Rock que faz parte.

Uma distopia onde a liberdade é apenas uma promessa
Evelyn reconstrói um presente alternativo ao mesmo tempo absurdo e sólido. E se o Brasil ainda existisse escravidão? Há quase 3 décadas, a África do Sul ainda vivia o Apartheid e não muito antes disso, os EUA ainda mantinham leis abertamente segregacionistas, então o absurdo encontra pontos de contado com a mais terrível verdade nessa obra. Não é um livro para divertir pois a narrativa é direta e competente em passar a frieza desse mundo. A trama tem boas reviravoltas pois todos os personagens tem algo a esconder.
Os abolicionistas, são outro elemento que movimentam a estória, com um paralelo aos guerrilheiros da ditadura militar de 1964, sendo mais frágeis e, contra eles, a tecnologia da vigilância atual trabalhando contra qualquer ato de rebeldia. Tecnologia aparece apenas para mostrar a racionalização do sistema escravista, bem adaptado a economia de mercado atual. Ainda que nada disso esmiuçado, cumpre a função de mostrar a frieza desse mundo afetando as relações de Carlos, esse sim, o foco central da trama. A única coisa que senti falta foi de mais personagens negros além de Júlio.

A edição é bem caprichada. Tem uma arte muito bonita nas páginas que dividem cada uma das três partes, no prólogo e epílogo. Nota-se cuidados com o livro não param no texto bem escrito da autora. A leitura está mais que recomendada.
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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Resenha - Revista Quadrante Sul número 5

Vamos dar sequência a série de resenhas das revistas Quadrante Sul, que reúnem fanzineiros apaixonados por quadrinhos. Depois de falar da nº4, vamos para a nº5 que adquiri no último Gibifesf, em Setembro último, num pacote com 4 edições.

REVISTA QUADRANTE SUL Nº5
Este número conta com alguns retornos e novos personagens. Imagino o trabalho aos editores colocar ao menos um pouco da contribuição de cada zineiro. A edição está menor em número de páginas, porém os quadros estão menos comprimidos. Isso melhora a visualização de cada quadro o que faz bastante diferença, principalmente na primeira estória, "O ritual" que é bastante visual, com poucos diálogos. Nela o personagem "Predador" encontra um indígena numa terra árida prestes a cumprir um ritual. Os momentos mais importantes não possuem diálogos. Uma ótima abertura para  a revista.
"Bruce, o Exterminador" retorna em mais uma página, pois suas estórias são curtas mesmo, e mais um contrato. O cenário em um dia claro não o deixa a estória mais leve. A boina, no estilo Chê Guevara é sensacional.
"Memórias de Boxing Joe", ao contrário das outras, é uma estória de origem, de um... não se dizer se é herói ou vilão, mas é muito criativo, com certeza. Um menino nascido sem braços e pernas, cresce sendo zoado mas também admirado pelo trabalho em próteses, enquanto isso o mundo toma um caminho muito diferente do nosso.
O personagem "Eliminador" retorna em "A Nova Ordem". Uma estória mais encorpada, violenta e com um cenário passado um Rio Grande do Sul distópico. A revista já terminaria bem com esta estória mas a última página vem com a cereja do bolo. "Estranhos Prazeres", de Jader Correa, faz  em apenas 7 quadros em uma Ficção Científica, critica, densa e muito bem desenhada.
A revista ganhou o Prêmio Angelo Agostini de 2012!

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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Resenha #46 - O Alienista (Machado de Assis)

Este é a primeira, de uma série de resenhas, que farei de obras clássicas da literatura brasileira que aparecem na série Brasiliana Steampunk, que conta atualmente com um livro ("Lição de anatomia do temível Dr. Louison") e alguns contos. A série é como uma "Liga Extraordinária" com personagens da lit. brasileira. De "O Alienista", foram emprestados ao mundo criado por Enéias Tavares, Simão Bacabarte e D. Evarista Bacamarte.

[SEM SPOILERS]
"O Alienista", de Machado de Assis, gira entorno da loucura. A estória conta sobre Simão Bacamarte, um médico que chega a pequena cidade de Itaguí/RJ onde encontra espaço para desenvolver seus estudos médicos sobre a loucura. Para tanto constrói a Casa Verde que é, a rigor, um manicômio ao qual eram recolhidos todos que apresentavam sinais de demência. Contudo, a população começa a se revoltar quando pessoas consideradas sãs passam a ser recolhidas a Casa Verde.

A ironia toma conta de toda a obra que estende várias críticas ao Brasil de seu tempo.  A forma como essa ironia encontra-se na obra, ou seja, o uso da linguagem, é o que chama mais atenção na obra. Os discursos dos personagens, tanto o cientificismo de Bacamarte, quanto seus bajuladores e opositores, são vazios expondo toda sua hipocrisia. Contudo Simão Bacamarte, apesar de usar seu poder para uso pessoal, não é um pragmático pois acredita no que discursa levando até as últimas consequências. Ainda assim, retoma-se o velho problema posto por platão: "Quem fiscaliza os fiscais?". Quem determina o louco, se de perto todos somos normais? 


Simão Bacamarte de "Dr. Louison"
Na obra que trouxe uma estória alternativa ao personagem, Simão Bacamarte migra para Porto Alegre onde transforma o Hospital São Pedro, num Hospício. Essa versão do personagem está mais velho e aprendeu com os erros cometidos na Casa Verde (que teve um fim diferente neste livro) e deixa-se levar pela megalomania, construindo um local ainda mais complexo e realizando experimentos cruéis nos pacientes. O discurso cientificista de Bacamarte, é agora, influenciado por Cesare Lombroso e Francis Galton colocando-o como um vilão na série. 

Sobre a versão lida para a resenha.
O leitor pode encontrar análises muito mais profundas que a minha, já que o autor é amplamente lido, ainda que muitas vezes por obrigação. A quantidade de versões da obra por outro lado, permitem facilitar a leitura, que é muito rebuscada para nosso padrão de leitura atual. Vale procurar livros com letras grandes e confortáveis. Pessoalmente achei uma por R$ 5,00, da editora Ática, série bom livro, edição didática, que possuí um ensaio crítico, letras grandes e alguns comentários, em rodapé, que situam umas ironias sem poluir a leitura. Existem muitas outras mais e vale a pena atentar esses detalhes para aproveitar melhor a leitura. Sem contar que, por ser uma obra de domínio público, que deixo aqui para baixar.

O ALIENISTA (em .pdf)
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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Resenha - Revista Quadrante Sul número 4 - Vinte anos depois

A revista Quadrante Sul lançou seus três primeiros números entre os anos 1988-89 trazendo a proposta de uma revista em quadrinhos totalmente independente e com produção colaborativa. Em 2009, retomaram com o projeto e lançaram a edição número 4, seguindo a numeração original, contudo sendo a primeira desta nova fase. 
A publicação continua totalmente independente, contando estórias com personagens originais privilegiando o Brasil como cenário. Este ano, em julho, para ser preciso, eles lançaram a edição número 7. Adquiri um exemplar de cada (números 4,5,6 e 7) e farei uma série de resenhas, sendo esta a primeira, da nova fase da publicação. Apesar de não ser um leitor voraz de quadrinhos (li alguns do Demolidor e do Lanterna Verde) acredito que posso passar algumas impressões e despertar a curiosidade do leitor. 

REVISTA QUADRANTE SUL Nº4
A leitura rápida e as estórias são muito divertidas, ainda que curtas, é o suficiente para sentir um gostinho dos personagens e querer saber mais sobre eles. Não são estórias de origem dos personagens. Eles já chegam na ação, afinal já vem de fanzines do meio independente. São, também, quase todos, anti-heróis em cenários noturnos, muitas vezes distopias futuristas e outras distopias do presente.
A primeira estória é "Estranhos Invasores", divididas em cinco partes, cada uma desenhada por mãos diferentes, com os personagens "Caçador", um agente da PF do Brasil que está missão num voo para o Líbano e se vê numa rede de conspiração que tenta matá-lo ao mesmo tempo que "Alfa" cruza seu caminho, um Alien agressivo e violento que hospeda no corpo de Cristiano. A estória deixa margem para uma continuação.
No conto de tiro curto "Bar", o personagem "Bruce, o Exterminador" descarrega sua fúria em um bar esfumaçado. Destaque para os diálogos verossímeis, o traço cru de Shima e a boina de Bruce. Foi o que mais gostei.
"Aceita uma bebida?", é a estória que vem depois e acompanha um outro mergulho num bar escroto (que todos amam falar mal) com o "Eliminador" que está bebendo sozinho até a chegada de um velho conhecido. Prevalece a tensão entre os dois.
"Martin-pescador", traz uma trama que se passa em São Leopoldo onde o mercenário "Aproveitador" acaba atrapalhando os interesses de um empresário mafioso. A estória condensa muito acontecimentos, mas o personagem bastante carismático.

Vale a pena, não apenas para apoiar o trabalho independente mas também por trazer um frescor a tantas leituras estrangeiras que nos pegamos fazendo (vai dizer que não?!). Se ainda não está convencido, o preço de capa (R$ 4,90) por 38 páginas, vale muito a pena. Vamos ver o que o próximo número nos reserva...

Mais informações, vá direto na fonte: http://quadrantesul.blogspot.com.br/
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