segunda-feira, 23 de maio de 2016

Resenha #24 - Reconhecimento de Padrões (William Gibson)


[SEM SPOILERS]
Reconhecimento de padrões (2003) marcou uma virada na escrita de William Gibson. É o primeiro romance fora da ficção científica. É, também, o primeiro de uma nova trilogia, passada no presente, pós-11/09. Será que o futuro imaginado pelo autor finalmente chegou?

Cayce Pollard é uma "caçadora de tendências", observa o que as pessoas usam e vende suas apuradas percepções para empresas de marketing. Estas, por sua vez, transformam em mercadorias. Contudo, num estranho efeito colateral de suas sensibilidade para a moda, está uma alergia a marcas registradas. Desembarcando em Londres para um trabalho na agência Blue Ant, do milionário belga Hubertus Bigend, Cayce recebe uma nova proposta de trabalho. Procurar a origem de um misterioso filme que viralizou na internet, intrigando e atraindo milhares de fãs em todo mundo, incluindo ela.

O ciberpunk é hoje?
Os elementos incomuns de Gibson, de suas especulações de 20 anos antes, estão todos nesse aqui porém com uma roupagem adequada a uma estória que se passa em nosso mundo nos anos 2000. Personagens afetados pelo ciberespaço, pessoas poderosas reinando em submundos, agentes privados potencialmente violentos e mais homens e mulheres ambiciosos, charmosos e individualistas. Neste livro o nicho cultural em foco é a publicidade. Foi uma escolha feliz de Gibson, pois o ciberespaço já é uma realidade corriqueira. O que nos leva a refletir até que ponto as antigas especulações de Gibson se tornaram reais. O ciberpunk é hoje?

A trama intrincada de Gibson está melhor neste livro. Temos um escritor experiente e cada vez mais habilidoso. Sob o olhar de uma única personagem, passam uma série de personagens, que aprofundam a protagonista e o modo dela ver o mundo e as pessoas. Quanto a narrativa, é um caminhão de referências culturais que são, por vezes, a única forma de entender certas passagem do livro. Inclusive a descrição de personagens como a própria Cayce, parecida com Jane Birkin, e Hubertus Bigend como um Tom Cruise "Com mais dentes".
Comparar os personagens a pessoas conhecidas é uma saída interessante e rápida, que permite ocupar mais espaço com a personalidade dos personagens. Todos moldados com base na percepção de Cayce. Uma pessoa que tem sua vida profissional cercada pela moda, mas com uma intensa alergia as marcas. Suas viagens, ao Japão e a Rússia (não é spoiler, está na contra capa do livro), a tornam imune as marcas, o que não acontece quando está na Inglaterra. Seria pelos alfabetos diferentes, ou pela diferença das culturas que desenvolvem um marketing direcionado?

Impressões finais
Gibson foi hábil em usar os eventos das torres gêmeas sem se deixar usar por eles. A obra tem fôlego, tanto conceitual quanto narrativo, mesmo passado mais de uma década de seu lançamento. Como resultado do aprofundamento em uma personagem, o livro pode tornar-se um pouco arrastado, e exige muito da existência ou não de uma empatia com Cayce para se desfrutar da leitura.
A escolha de narrar o presente dá uma consistência diferente em comparação aos outros livros. Gibson escreve melhor, ambienta referencia com mais precisão e criatividade. Porém especula menos, pois não é um vislumbre do que pode vir. Reconhecimento de Padrões soa como um inventário de nossa atualidade, o que ficou do ciberpunk. 

Livro lido para a resenha, foi uma edição de 2004, ainda sem o trabalho gráfico da capa para homogenizar a trilogia. Particularmente, gostei mais desta que das outras duas que foram feitas. A tradução de Fábio Fernandes está bem superior a de Neuromancer.

Outras capas brasileiras:
 
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sexta-feira, 20 de maio de 2016

História Alternativa: E se Lênin se convertesse ao Islã?

Uma inusitada coleção de fotos, do artista Rinat Voligamci, cria uma história alternativa onde Lênin, um dos líderes da revolução Bolchevique, não morre em 1924, mas abandona a política e começa a viver como um muçulmano pois seus parentes eram de origem Bashkir. Em seguida, "renovado Lênin" começa a associar-se com a seu fictício irmão gêmeo Sergey e vai à Meca e até mesmo escreve uma obra intitulada "Islã como a última esperança da revolução".

Vladimir Ulianov (Lenin) e seu irmão gêmeo (fictício) Sergey. Ufa, 1874

Em Moscou, 1919

Lênin em Bagdá, 1946. Após escrever "A última esperança da revolução"

Lênin em Meca, 1949.

 Lênin em Havana, ajudando Fidel Castro na Revolução Cubana. 1959.

Lênin no jardim dos fundos de sua casa. Cuba, 1964.

Fonte: http://thepeoplescube.com/lenin/lenin-still-lives-unofficial-biography-in-pictures-t5200.html

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sexta-feira, 6 de maio de 2016

Resenha #23 - Segunda Fundação (Isaac Asimov)

[SEM SPOILERS]
Esta resenha corresponde ao terceiro livro da trilogia clássica que foi publicada completa pela editora Hemus e separada pela editora Aleph. As duas primeiras partes foram resenhadas aqui e aqui.
Segunda Fundação conclui a trilogia clássica, acrescentando camadas de revelações, e focando no "Plano Seldon" que falava de uma segunda Fundação no outro extremo da galáxia.
A história
Mulo, o mutante que conquistou quase toda a galáxia, tem a obsessão de enfrentar e derrotar a Segunda Fundação. Temos também mais uma passagem de tempo relevante e uma última e "conclusiva" parte, que satisfaz muitas curiosidades sobre a Segunda Fundação que haviam sido despertadas até então.
A psicohistória e o sonho de Auguste Comte
O plano Seldon, depois de consolidado como uma realidade nas primeiras obras, é debatido e contestado neste volume. Tendo na figura de Mulo o agente que tolhe o livre-arbítrio, o plano Seldon, imaginada como uma matemática capaz de calcular, para prever, a dinâmica humana de grandes grupos populacionais. Essa encontra muitos paralelos (e não inspirações) na "física social" do positivismo de Comte. Esta imaginava que a sociedade deveria alcançar um estado de evolução onde a religião e a irracionalidade não seriam mais necessárias, porém até lá, uma religião seria criada propositalmente para conduzir a esse fim. 
A "religião da humanidade" é bastante parecida com a religião criada pela Fundação no primeiro volume. Contudo o positivismo foi abandonado tanto como ideológica, como politica e religião, mas na especulação cientifica e social de Azimov com a psicohistória, ela evoluiu nos estágios, ditos, irracionais.
A racionalidade tendo forma no plano Seldon, ironicamente profético e cientifico, encontra um debate muito interessante nesta conclusão da trilogia.
Lições de história que governam cada vez mais os vivos
Uma das características mais marcantes desta obra é como as histórias vividas por outros personagens e as lições históricas são sempre revividas pelos personagens e influenciando ativamente as partes seguintes da história. Outro paralelo com o pensamento de Comte, os personagens vivem como em uma de suas máximas: "Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos." Na narrativa de Azimov as verdades estabelecidas são recontadas, tratadas como lenda ou fato, e principalmente pautando a vida das gerações desta grande história.
Sobre a edição lida para a resenha: Fundação (Trilogia) de Isaac Asimov. Trata-se da primeira edição pela Hemus, publicada numa época em que até uma trilogia não precisava de três livros publicados separadamente.
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